Base fisiológica

A atmosfera normal contém aproximadamente 20% de oxigênio, e sob condições normais isso é suficiente para as necessidades corporais. No entanto, na presença de hipoxia aguda ou crônica essa percentagem deve ser aumentada para que as lesões teciduais possam ser corrigidas. Ainda mais, na presença de distúrbios circulatórios, a captação de oxigênio pelo organismo pode ser satisfatória, enquanto o fluxo sanguíneo aos tecidos é inadequado. Aumentando a tensão do oxigênio no sangue, não se eleva apenas a qualidade fisicamente dissolvida no plasma, mas também se melhora o gradiente da tensão de oxigênio disponível na área estagnada.

Ao nível do mar, a saturação do sangue arterial é de aproximadamente 95% de oxigênio, e a tensão desse gás na traquéia durante a inspiração é de 149mmHg. Respirando-se oxigênio a 100%, ele desloca o nitrogênio, e a tensão do oxigênio se eleva a 713mmHg.

A Curva de dissoxiação do oxigênio permite uma variação ampla da tensão de oxigênio para o homem respirando ar. Assim, subindo-se de avião, a pressão atmosférica diminui e a tensão do oxigênio pode cair a nível de até 40mmHg, antes que a saturação seja reduzida a nível em que apareçam a cianose e outros sintomas.

As pressões parciais do ar e do oxigênio em várias altitudes estão ilustradas na ‘TABELA 1′ , com as condições equivalentes que seriam esperadas mas essas não levam em conta a adaptação física e a aclimatização do indivíduo. A esse respeito deve-se lembrar, que, em 1952, Edmund Hilary foi capaz de remover sua máscara de oxigênio no topo do monte Evereste por um período de 10 minutos sem apresentar hipoxia aguda.

Tabela 1

Efeito da altitude na pressão barométrica

Pressão Barométrica

Altitude – Condições Pressão Total de ar em mmHg

– Tensão de oxigênio em mmHg

30580m Em pleno espaço

. 7 1,15

19202m Ebulição dos líquidos nos organismos, a 36,5ºC

. 47 10

12192m Carência intensa de oxigênio apesar da respiração de O2 a 100%

. 141 30

8800m Topo do Evereste

. 235 49

5486m Maior altitude habitada permanentemente pelo homem

. 379 79

3657m Sinais definidos de carência de oxigênio

. 483 101

2438m Zona de segurança

. 564 118

1524m Ligeiro ou nenhum efeito de carência de oxigênio

. 632 132

Nível do mar

/Segundo Lambertsen, 19611

O mergulho no mar produz o efeito inverso. Aqui, a tensão de oxigênio aumenta com rapidez. A pressão aumenta de uma atmosfera ou 760mmHg para cada 10 metros (133 pés) de profundidade do mar ou 9,1m (30 pés) em água doce. Por exemplo, a uma profundidade de10 metros abaixo da superfície do mar, a tensão do ar é de duas atmosferas ou 760×2 = 1.520mmHg; portanto a tensão desse gás no sangue será duplicada e, quando se respira oxigênio puro a essa profundidade, a tensão aumentará concordantemente.

Em qualquer descrição de terapêutica Hiperbárica, o uso de terminologias correta é o mais importante para que a pressão certa que o paciente esteja recebendo possa ser perfeitamente entendida. Então, quando se diz que um paciente está sendo exposto à 2 atmosferas (absolutas) de ar ou oxigênio isso quer dizer que esses gases estão sendo liberados à pressão atmosférica mais uma atmosfera extra. Assim a situação é mais facilmente anotada como 2 ATA.

Pressão atmosférica + 1 atmosfera.. = 2 ATA.

Pressão atmosférica + 2 atmosferas = 3 ATA.

Pressão atmosférica + 3 atmosferas = 4 ATA.

Recentemente tem sido focalizada a possibilidade do uso de alta tensão de oxigênio na prática clínica para aumentar a qualidade de oxigênio disponível às necessidades celulares.

A hemoglobina é o principal transportador de oxigênio; estando normalmente saturada em 95 a 97% e havendo pequena margem para uma saturação maior. No entanto, as grandes quantidades de oxigênio transportadas pelo plasma guardam uma relação direta com a tensão de oxigênio no ar respirado.

Assim, à tensão de 3,5 atmosferas * (2.660mmHg) a quantidade de oxigênio dissolvida no plasma é maior que a diferença arteriovenosa normal, tanto que não haveria mais necessidade da hemoglobina.

Assim:

Conteúdo de 02 no plasma

Respiração de ar ambiente 0,3ml/100ml de sangue

Respiração de 100% de 02 2,0ml/100ml de sangue

Respiração de 100% de 02 a 2 atm 3,8ml/100ml de sangue

Respiração de 100% de 02 a 3 atm 5,3ml/100ml de sangue

Respiração de 100% de 2 a 3,5 atm 6,5ml/100ml de sangue

Em resumo: para aumentar de 100mmHg de tensão, há um aumento aproximado de 0,3ml de oxigênio para cada 100ml de plasma.

Esse conteúdo elevado de oxigênio, fornecido aos tecidos, é a base das vantagens teóricas para o uso do oxigênio hiperbárico, as quais são observadas na prática clínica. O único método de aumentar a pressão do oxigênio inspirado acima das condições atmosféricas é através da utilização de Câmaras Hiperbáricas.

A oxigenoterapia hiperbárica tem sido largamente utilizada nos Estados Unidos, União Soviética, Canadá, Japão, Holanda, Alemanha, França, Inglaterra, Escócia e outros países, em um grande número de patologias, ora como tratamento de primeira escolha, ora como importante coadjuvante.

O comitê de Oxigenoterapia Hiperbárica da Undersea Medical Society, constituído por expressivos especialistas dos Estados Unidos e Canadá catalogou 58 indicações de uso corrente. A seguir, as principais indicações, de acordo com o “Report of the commites on Hyperbaric Oxigenation of the Undersea Medical Society”, corroborando com os trabalhos apresentados nas diversas áreas da medicina, no VII Congresso Mundial de Medicina Hiperbárica, realizado em Moscou (URSS), no ano de 1981.